Depressão: entendendo a dor por trás do silêncio
A depressão é hoje uma das condições de saúde mais comuns no mundo. Até 2020, já ocupava o topo da lista de doenças mais prevalentes em diversos países. Mas será que estamos falando apenas de estatísticas? Ou será que a depressão é também um espelho do modo como vivemos, nos relacionamos e cuidamos, ou deixamos de cuidar, de nós mesmos?
O que é a depressão?
A depressão é uma doença. Não é fraqueza, falta de vontade ou preguiça. É uma condição médica que afeta humor, pensamentos, sono, apetite, corpo e a forma como a pessoa se vê e percebe o mundo.
Para quem está em depressão, o vazio parece não ter fundo, o cansaço não melhora com descanso, e a tristeza não precisa de um motivo claro para existir. A vida perde cor, sentido e sabor. Muitas vezes, nem a própria pessoa sabe explicar exatamente o que sente. O sofrimento é real, mesmo que invisível.
Sintomas de depressão
Depressão não é apenas “estar triste”. Para que seja considerado um episódio depressivo maior, os sintomas precisam durar pelo menos duas semanas consecutivas, causando sofrimento intenso ou prejudicando a vida pessoal, social ou profissional.
Segundo o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), é necessário que a pessoa apresente cinco ou mais dos sintomas abaixo, sendo obrigatória a presença de um dos dois primeiros:
Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias
Perda de interesse ou prazer nas atividades habituais
E pelo menos três ou mais destes:
Alterações significativas no peso ou apetite
Insônia ou sono excessivo
Agitação ou lentidão percebida por outras pessoas
Fadiga ou perda de energia
Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva
Dificuldade de concentração ou indecisão
Pensamentos recorrentes sobre a morte ou ideação suicida
Esses sintomas não devem ser explicados por uso de substâncias, outras doenças ou transtornos psiquiátricos, nem ocorrer em pessoas com episódios prévios de mania ou hipomania, a menos que sejam induzidos por uma condição médica ou por substâncias.
E quando é luto ou tristeza pela vida?
A tristeza diante de uma perda é natural. Pode ser por um luto, uma separação, uma doença ou outro evento marcante. É esperado que haja dor, insônia, falta de apetite e até perda temporária de interesse. Isso pode se parecer com depressão, mas nem sempre significa doença.
O diagnóstico exige um olhar cuidadoso: tempo de duração, intensidade dos sintomas e contexto de vida. Sentir dor não é o mesmo que estar doente, mas perdas importantes podem sim desencadear um quadro depressivo. Por isso, a avaliação de um especialista é essencial.
Quem pode ter depressão?
Qualquer pessoa. A depressão pode atingir homens e mulheres, jovens e idosos, com ou sem histórico familiar, com ou sem traumas prévios.
Não há uma única causa. Fatores genéticos, hormonais, neurológicos e ambientais se combinam de formas diferentes para cada indivíduo.
Existe tratamento?
Sim. Há tratamento. E, passo a passo, a vida volta a florescer…
A depressão pode ser tratada, e muitas vezes superada, com acompanhamento adequado. O tratamento costuma envolver:
Psicoterapia
Medicamentos antidepressivos, quando indicados
Mudanças no estilo de vida, como sono regular, alimentação equilibrada e atividade física
Rede de apoio afetiva e espaços de escuta segura
Cada pessoa é única. Por isso, o cuidado deve ser personalizado e conduzido por um médico ou médica psiquiatra.
Por que falar sobre isso?
Porque o silêncio adoece. E a vergonha também.
Ainda existe muito preconceito sobre saúde mental. Muita gente demora a buscar ajuda porque acredita que “vai passar”, que não tem motivo para se sentir assim ou porque ouve frases como “isso é frescura” ou “tem que ser forte”.
Mas pedir ajuda é um ato de coragem e cuidado consigo mesmo.
Depressão é doença. Mas também é sintoma.
Além de um diagnóstico, a depressão pode ser um chamado. Um pedido do corpo e da alma para repensarmos a forma como estamos vivendo. Vivemos na era da pressa, da produtividade e da performance, mas sobra pouco espaço para sentir, pausar e viver com autenticidade.
Tratar a depressão não é só reduzir sintomas. É também recuperar sentido, vínculos e afeto. É reencontrar a si mesmo.
Se você está vivendo algo parecido, procure ajuda. Você não está sozinho. Meu consultório está aberto para acolher, sem julgamentos. Se não for comigo, que seja com alguém de sua confiança.
A vida pode voltar a ter cor, sentido e leveza. E você merece vivê-la assim.